Por Júlia Ramos

Quando se fala em personagens femininas marcantes do cinema, logo nos surgem alguns nomes na cabeça, como, por exemplo, a princesa Leia – muito por ter beijado seu próprio irmão –; a pequena Reagan, com sua viradinha de pescoço sensacional e fluidos gástricos característicos, e a heroína Ripley, que mostrou ao universo que nenhum alien esquisito seria capaz de ficar em seu caminho. Todos esses filmes são considerados clássicos da cultura pop. Por isso, tornou-se comum ouvir sobre elas, que já foram praticamente dissecadas pelos críticos e analistas de cinema. Se elas fizeram tanto e conseguiram um espaço enorme no coração e memória dos cinéfilos, o que resta então para as garotas que vieram depois dos anos 2000? Esta lista, a seguir, das 16 personagens mais marcantes vai tentar colocar novas garotas em destaque.

*Esse texto faz parte de um especial de quatro partes sobre as mulheres no cinema. Não deixe de conferir a primeira , a segunda e a terceira!

Lisbeth- Millenium – Os homens que não amavam as mulheres (Título Original: The Girl With the Dragon Tattoo) ano: 2011

Quem diria que, em um filme de suspense, a parte mais importante caberia a uma mulher? O filme de 2011 é interessante exatamente em razão disso. Apesar de ser um remake do original sueco, o filme não perde a essência. O que isso significa? Que não importa muito quem faça a personagem feminina principal, porque o relevante é o papel dela no filme, sua atitude e força. Quase uma hitgirl mais crescida e mais traumatizada com a vida, Lisbeth é uma hacker que ajuda o personagem Mikael a desvendar um crime.

Isso já seria muito, mas ela também fica com as cenas de ação e manda e desmanda no rumo da própria vida, escolhendo com quem se relacionar quando, onde e se vai levar em frente ou não o relacionamento. Ela não depende de ninguém e em um momento em que uma pessoa normal precisaria da polícia ou de alguma outra pessoa auxiliando, ela age sozinha e resolve tudo. Lisbeth é uma personagem importante, pois mostra, além disso, as dificuldades que uma pessoa enfrenta somente por ser mulher, e como é possível lidar com isso, transformando problemas em força para conseguir o que se queira. Um ponto a mais para o remake do filme é que ele reconhece a significância da personagem de Lisbeth, pois o nome é, em tradução livre, “A garota com a tatuagem de dragão”, em referência a ela como a personagem mais importante da trama.

Merida – Valente (Título original: Brave) ano: 2012

Ao longo da história, sempre foi comum ver filmes de animação protagonizados por personagens femininos. Porém, este papel sempre esteve ligado a uma história romântica com as princesas sendo salvas no fim por seu príncipe encantado. Em “Valente”, de 2012, o romance não tem vez. O maior desejo de Merida é o de justamente não ter de se casar. A subversão do clichê se dá de forma original, voltando o tema do filme para a relação da princesa com sua mãe. Além disso, a garota não tem os estereótipos mais comuns desse gênero. Ela tem paixão por arco e flecha, gosta de se aventurar por seu reino e deixa seus cachos ruivos sempre soltos e desarrumados.

E o mais importante, em nenhum momento é mostrada de forma garota indefesa, tirando de letra todos os desafios que lhe aparecem pela frente. Valente não é uma sátira com filmes de princesa e sim mais um deles, feito de forma diferente. A protagonista tem 16 anos, a idade média das princesas da Disney, e diferentemente das outras, se considera nova demais para se casar. Para completar, no torneio em que o vencedor ganharia a sua mão, Merida acaba competindo por si mesma e se sai melhor que todos os garotos no arco e flecha, modalidade normalmente dominada pelos homens.

  Joan Clarke – O Jogo da Imitação (Título Original: The Imitation Game) ano: 2014

O Jogo da Imitação, de 2014, foi um filme que tocou em muitos assuntos relacionados à batalha contra o preconceito. O Professor Alan Turing, gênio cujo intelecto ganhou a segunda guerra para os aliados, foi condenado à castração química pelos tribunais britânicos por ser homossexual. Em meio a esse ambiente extremamente machista, Alan conhece Joan Clarke, uma jovem extremamente inteligente em tempos em que o intelecto feminino era desprezado.  Em Joan, Turing encontra uma rara pessoa que compreende sua mente e aceita suas peculiaridades e nele ela encontra alguém que a trate como igual, graças a sua inteligência.

Mesmo em momentos em que sua capacidade é desvalorizada por ser mulher- como quando ela vai ao teste para trabalhar com Turing e tentam encaminhá-la para o teste de secretaria- Joan continua firme e se mostra até melhor do que os concorrentes do sexo masculino. Muitas vezes suas habilidades superam até mesmo as de Turing, não só tecnicamente como socialmente.  Joan se impõe pelos seus talentos durante toda a narrativa, não só batendo de frente com as maiores mentes da história inglesa, mas também sendo uma das mais importantes delas. Uma mulher imprescindível para o fim da Segunda Guerra Mundial.

Elsa e Anna – Frozen: Uma Aventura Congelante (Título original: Frozen) ano: 2013

No ano anterior, a Pixar se adiantou na representação mais positiva da mulher. Em 2013 foi o da Disney, criadora de tantos clichês sexistas, lançar Frozen, um filme que em muitos aspectos remava contra a maré estabelecida pelo estúdio. As irmãs Elsa e Anna foram apresentadas como personagens fortes e independentes, cativando centenas de milhões de pessoas pelo mundo todo. Elsa tem poderes incríveis de controlar gelo, o que a coloca como uma das mais poderosas personagens da Disney. Além disso, mesmo sendo o seu arco dramático que move a narrativa do filme, a Rainha não tem nenhum par romântico.

Ainda assim, Anna não fica atrás. É ela quem salva sua irmã no fim do longa metragem (uma mulher fazer tal coisa em animações é algo raro) e sua personalidade é extremamente destemida, nunca duvidando de si mesma em momento algum, mesmo quando tudo parece perdido. Ela nos guia pela história, fazendo com que a participação masculina do filme seja inteiramente coadjuvante. Além disso, apesar de ter uma história romântica, o tema principal do filme é a relação entre as duas irmãs, diferentemente dos outros filmes do estúdio. O que elevou Frozen a patamares maiores do que Valente foi o sucesso absurdo do filme, hoje a quinta maior bilheteria da história com 1,273 bilhões de dólares arrecadados, além de uma vasta produção de homenagens na internet.

2015– Como 2015 não passou do primeiro semestre ainda fica a questão de quem será a personagem feminina marcante do ano. O jeito é acompanhar os filmes e o crescimento de personagens femininas fortes a conquistar o coração do público.