Por Júlia Ramos

Quando se fala em personagens femininas marcantes do cinema, logo nos surgem alguns nomes na cabeça, como, por exemplo, a princesa Leia – muito por ter beijado seu próprio irmão –; a pequena Reagan, com sua viradinha de pescoço sensacional e fluidos gástricos característicos, e a heroína Ripley, que mostrou ao universo que nenhum alien esquisito seria capaz de ficar em seu caminho. Todos esses filmes são considerados clássicos da cultura pop. Por isso, tornou-se comum ouvir sobre elas, que já foram praticamente dissecadas pelos críticos e analistas de cinema. Se elas fizeram tanto e conseguiram um espaço enorme no coração e memória dos cinéfilos, o que resta então para as garotas que vieram depois dos anos 2000? Esta lista, a seguir, das 16 personagens mais marcantes vai tentar colocar novas garotas em destaque.

Esse texto faz parte de um especial de quatro partes sobre as mulheres no cinema. Não deixe de conferir a primeira e a segunda!

Eli–Deixa ela entrar (Título Original: Låt den rätte komma in ) ano: 2008

Os vampiros sempre foram retratados no cinema como personagens masculinos. Neste filme sueco de 2008, contudo, a protagonista é uma vampira adolescente. A transição entre infância e adolescência é um momento muito difícil, principalmente se você for um garoto de 12 anos que não se dá tão bem com as outras pessoas, tem os pais separados e sofre bullying no colégio. É mais ou menos essa a situação de Oskar até encontrar conforto na amizade com Eli, garota que se muda para a vizinhança com seu pai, e que demonstra ser bem diferente das crianças com as quais ele está acostumado a conviver. Com o tempo, Oskar descobre que ela é uma vampira, e a amizade de duas crianças que se sentem solitárias tenta superar este fato. Se ela não fosse uma vampira, o filme continuaria possível devido à mensagem que transmite, sobre crianças que se unem para lutar contra a solidão e a exclusão. Eli é essencial para ensinar Oskar a ter autoconfiança, a não ficar parado diante de injustiças, e é exatamente por isso que a personagem é marcante. Acima das cenas de sangue, estão as de amizade e as que os ensinam a lidar com uma fase difícil da vida.

Shoshanna – Bastardos Inglórios (Título Original: Inglorious Basterds) ano: 2009

É difícil de imaginar que um filme sobre os judeus se rebelando contra nazistas, por meio de um plano que incluía a morte de Hitler, tivesse como um dos principais protagonistas uma mulher. Também por isso, Bastardos Inglórios, de 2009, surpreendeu. Não é novidade que Quentin Tarantino gosta de contestar e zombar da sociedade e do próprio curso da história de seus filmes. Porém, ele nunca havia feito isso de forma tão eficiente quanto em Bastardos Inglórios. Neste longa-metragem, que se passa durante a Segunda Guerra Mundial, os judeus se organizam em grupos para se vingar de nazistas, espancando-os e se divertindo. Isso já seria chocante o suficiente para um só filme, mas ainda há mais: existem DOIS planos para matar Hitler. E uma das principais articuladoras e protagonista de um deles é Shoshanna, mulher judia que perdera sua família por causa do nazismo. O papel dela não é o de costurar roupas para os combatentes, como costuma ser o serviço atribuído a mulheres em revoluções. Para ela foi deixada a parte mais importante: a de comandar a situação que permitiu o extermínio dos nazistas– além de ser administradora da sala de cinema em que tudo se desenrola.

Hitgirl – Kickass: Quebrando Tudo (Título Original: Kickass) ano: 2010

Já falamos da tendência de mostrar às crianças, principalmente às garotas, que elas não são inúteis, que têm a possibilidade de mudar alguma coisa, como acontece em O Labirinto do Fauno e em Viagem de Chihiro. Em Kickass Quebrando Tudo, isso é ainda mais extremo. O filme Kickass tem o fator girlpower das Meninas Superpoderosas elevado à potência máxima. Ainda que as histórias da Hitgirl e de seu pai sejam paralelas à principal narrativa, que conta o surgimento do super-herói Kickass, a personagem de peruca roxa é essencial para toda a trama do longa-metragem. É tão óbvia a importância da Hitgirl e de sua força, independência e coragem, que no segundo filme da série houve um destaque maior para a personagem. O próprio herói Kickass não existiria sem ela, pois, mais do que parceira dele, ela muitas vezes toma o papel de protetora, por ter mais experiência em lutas, já que treinou desde muito pequena. Ela, por ser garota e também criança, acaba tendo que se afirmar, assim como muitas outras, tanto na ficção quanto na realidade. Tem de mostrar a que veio e conquistar o respeito das pessoas. Consegue isso mais com ações do que com palavras. Principalmente nas cenas de ação, que são o ponto alto do primeiro e do segundo filme.