Por Júlia Ramos

Quando se fala em personagens femininas marcantes do cinema, logo nos surgem alguns nomes na cabeça, como, por exemplo, a princesa Leia – muito por ter beijado seu próprio irmão –; a pequena Reagan, com sua viradinha de pescoço sensacional e fluidos gástricos característicos, e a heroína Ripley, que mostrou ao universo que nenhum alien esquisito seria capaz de ficar em seu caminho. Todos esses filmes são considerados clássicos da cultura pop. Por isso, tornou-se comum ouvir sobre elas, que já foram praticamente dissecadas pelos críticos e analistas de cinema. Se elas fizeram tanto e conseguiram um espaço enorme no coração e memória dos cinéfilos, o que resta então para as garotas que vieram depois dos anos 2000? Esta lista, a seguir, das 16 personagens mais marcantes vai tentar colocar novas garotas em destaque.

Confira aqui a primeira parte do nosso especial!

Clementine – Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (Título Original: Eternal Sunshine of the Spotless Mind) ano: 2004

O filme de 2004 parece só mais uma comédia romântica alternativa. Entretanto, do jeito que a história ainda está fresca na mente de tantas pessoas, mais de 10 anos depois do lançamento, deve ter algo a mais. Tem Kate Winslet como personagem principal e pode ser considerado um dos primeiros filmes a trazer o estilo de personagem de comédia romântica, que hoje já se tornou comum: a garota independente, perdida, com personalidade forte e estilo marcante. Isso é comum hoje em dia porque funcionou algumas vezes, e esse tipo de protagonista soube mexer com os espectadores. Clementine é exatamente tudo o que foi citado e um pouco mais, pois foi muito bem construída com suas inseguranças, ideais e atitudes divertidas. O filme conta a história de um casal que se apaixona. Em certo momento, o relacionamento entra em crise e a garota, Clementine, resolve passar por um procedimento para apagar todas as memórias que envolviam seu ex-namorado, interpretado por Jim Carrey. Deixando de lado a narrativa, realmente interessante, podemos ver como a personagem foi um sucesso também fora do filme. Não é incomum ouvir garotas usando frases citadas pela protagonista para se descrever: muitas se sentem um pouco Clementine. Assistir a um filme para conhecer um pouco de si mesma é uma experiência muito significante. Além disso, os cabelos e as roupas da personagem foram um sucesso entre as adolescentes da época, que, assim como ela, queriam expressar o choque de emoções que carregavam dentro de si.

Evey- V de Vingança (Título Original: V for Vendetta) ano: 2005

O padrão de beleza é extremamente importante para Hollywood. Logo, não é qualquer filme que tem como personagem principal uma garota que, em algum momento, esteja careca. Muito menos quando essa garota é Natalie Portman, um dos símbolos da beleza americana à época. Em 2005, a personagem marcante estava no filme V de Vingança. Natalie Portman, que já havia mostrado sua importância para a representação feminina no cinema com apenas 13 anos – interpretando a forte Mathilda em O Profissional – faz a personagem Evey, na adaptação cinematográfica dos quadrinhos de V de Vingança. No início do filme, ela é salva por uma figura anárquica e mascarada, conhecida apenas como V. Com o desenrolar da trama, vai aprendendo com ele tudo o que precisa para ser sua sucessora. Passa por situações de extrema dor para provar a ele que é de confiança, como na cena em que V a faz sua prisioneira para testá-la. Endurecida pelo treinamento, ela fica cada vez mais forte e ganha importante espaço nos planos de V, que pretende lutar contra o regime totalitário vigente no país. Apesar de frágil inicialmente, a personagem cresce de tal forma que se torna imprescindível para a continuação da luta e começo de uma revolução política. O filme foi muito relevante para cyberativistas como os Anonymous. Mas, também tem importância menos óbvia como um exemplo de personagem feminina que não seja hiperssexualizada.

Ofelia– O Labirinto do Fauno (Título Original: El laberinto del fauno ) ano: 2006

Em 2006, novamente, uma personagem feminina mostrou ao mundo o poder que as crianças podem ter. Seja cultivando magia e sonhos, ainda que em tempos difíceis, ou apoiando os adultos, de forma madura e impressionante. Assim como A Viagem de Chihiro, O Labirinto do Fauno começa com uma criança fazendo uma viagem com seus parentes. Apesar de ter como palco a Espanha fascista e não ser um filme de animação, este segundo se assemelha muito ao primeiro. Em certo momento da viagem, Chihiro se vê responsável pela vida de seus pais e isso também ocorre com Ofelia. Em seu caso, porém, somente pela saúde de sua mãe, que tem uma gravidez de risco. A partir de todas as injustiças e violência que observa, a garota cria um mundo paralelo no qual se refugia várias vezes durante a narrativa. Este mundo, assim como aquele em que Chihiro foi parar, é cheio de criaturas estranhas. No começo, a personagem também não é respeitada. Ela tem de percorrer um grande caminho de autoconhecimento e amadurecimento para aprender, neste mundo ilusório, valores importantes para o mundo real. O longa-metragem se aproxima muito de uma fábula, misturando a violência da realidade à confusão da imaginação, e deixa uma lição sobre a força que há dentro de cada criança, para lidar com adversidades de um modo mais leve e encantador. Ofélia não está longe do que somos, quando viajamos dentro de nossas mentes em momentos ruins. Esses devaneios, como os mostrado no filme, são importantes para achar caminhos alternativos para problemas sérios.

Juno– Juno (Título Original: Juno) ano: 2007

A Fórmula da garota de comédia romântica alternativa continua agradando em 2007 e se renova com o modo cômico como a personagem Juno, do filme homônimo, fala e vive. Gravidez na adolescência é sempre um tema sério, certo? Parcialmente certo. No filme Juno, o tema é abordado com a graça e suavidade que só comédias românticas alternativas conseguem ter. E o ingrediente principal do sucesso da perigosa união entre um tema sério com diálogos engraçados e caretas adolescentes, é a protagonista do filme, interpretada pela atriz Ellen Page. Ela é uma adolescente normal, que acaba engravidando de seu namorado Paulie Bleeker. Mas exatamente por ser retratada com tantos detalhes da personalidade típica de pessoas que vivem essa fase, cria uma identificação muito grande com o público. Seu jeito de falar, com gírias próprias e certa imaturidade para enfrentar determinadas questões, é delineado por uma personalidade forte, que se mostra na medida certa para encarar a dificuldade. Ela tem a força que somente mulheres que ficam grávidas na adolescência podem ter. A personagem não luta contra monstros de sete cabeças, nem com espadas de samurai, e é exatamente por isso que se destaca, pois às vezes os problemas reais são muito maiores do que os imaginários. Durante o processo, ela amadurece impressionantemente.